Eu tô ficando é velho, não é doido não!

idades, crise, felicidades, prazeres, tempo e 30 anos.

MARLA & EU

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Eu disse que esse espaço também ia servir como diário de bordo, então aqui vai uma história que aconteceu e me marcou profundamente.

Uma tia, após ter câncer de mama, se envolveu com o trabalho de uma fundação que ajuda mulheres em tratamento ou que já passaram pelo mesmo problema. O objetivo da instituição é dar o máximo apoio a essas mulheres. No ano passado, ela veio com uma amiga a um encontro de fundações como essa em Brasília e se hospedou na minha casa.

Quando eu estive recentemente em Teresina, perguntei pelo trabalho da fundação e ela me disse que aconteceria  um café da manhã, uma reunião com algumas frequentadoras da fundação, e que eu poderia ir. Decidi aceitar.

Minha primeira ideia era que eu chegaria lá e ficaria como a Marla de Clube da Luta. Sentaria ali, ouviria e nada mais que isso.

Ao chegar lá, só havia mulheres – lógico -, o lugar do café era muito bom, com tudo delicioso, então pensei em me concentrar apenas no que ia comer. Daí começou uma dinâmica de grupo, que eu achei que ficaria de fora, afinal eu era apenas uma visita. Me enganei. Não só entrei no jogo como eu seria o primeiro a falar.

Me deram o encargo de discorrer sobre a palavra FUTURO. Ao abrir minha boca e pegar o ar para começar, eu percebi o peso do que ia dizer. Vi os olhos daquelas mulheres e vi pelo que elas passaram.

Senti que eu não poderia brincar com a responsabilidade das minhas palavras falando de forma irônica ou até mesmo dando uma mensagem negativa apenas para ser chocante. Eu não precisava chocar ninguém dali, a vida já as havia chocado mais do que eu poderia dizer.

Decidi apenas abrir meu coração. Isso. Dizer o que eu realmente sentia daquela palavra, ou seja, falar sobre o que eu tenho falado aqui nesse blog. Falei do terror de fazer 30 anos, do medo de um futuro incerto, de não estar no caminho esperado; e terminei dizendo que não ter a certeza do futuro também é algo bom porque ele te dá chance de conduzi-lo para onde você quiser.

Eu não tinha ideia de onde minhas palavras haviam chegado.

Após minha fala, praticamente todas falaram das suas palavras fazendo referência a mim. Eu me tornei “o garoto que estava fazendo 30 anos”. Elas decidiram me contar como eram suas vidas aos 30. Duas delas, inclusive, descobriram o câncer com 30 –  e uma confidenciou que, antes da doença, pedia a Deus que a levasse nessa idade e ao ser diagnosticada com o câncer se arrependeu de cada vez que havia dito isso.

Houve risos, choros e muitas mensagens de esperança.

Terminei o café com muitos votos de tranquilidade em relação ao meu futuro, muitos olhares carinhosos e uma grande admiração por aquelas mulheres, em especial à mentora do encontro.

Saí de lá com vontade de dizer a todas as pessoas para irem a um encontro como esse, não para ver “a sorte que você tem por ter saúde”, mas para conhecer pessoas que muito tem a te dizer. E, ao fim, agradeça por elas terem te recebido e ouvido você, porque você vai sair de lá extremamente grato de tê-las ouvido.

3 comentários em “MARLA & EU

  1. Rafael Nova
    2 de abril de 2014

    Relendo seu texto, eu estava cá com meus botões pensando como esses momentos parecem trazer sentido à vida da gente. Quando a gente abre o coração sem palavras ensaiadas ou sem pretensão de fazer um grande discurso, e simplesmente fala sobre o que sente e expõe nossas dúvidas e fragilidades. Parece que isso não só aproxima as pessoas, mas é capaz de despertar algo de bom nelas, que eu acho, é a nossa “humanidade”. “Humanidade” (adjetivo).

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  2. Ticiane Damasceno
    2 de abril de 2014

    Aos 30 eu pensei em desistir… situações diversas me passaram à mente aos 30… mais diversas ainda foram as situações que foram colocadas diante dos meus 30… em janeiro pensei que estava com câncer… em março perdi um bebê (aborto espontâneo)… meses depois vó Maria partia… mais alguns meses me descobri grávida… depois que respirei já nem lembrava do mês de janeiro… o bom de se chegar aos 30 é que a gente descobre que o tempo de Deus é perfeito… já não temos a mesma pressa dos 20… e aprendemos que podemos recomeçar todos os dias… é a idade da verdade… de abrir a boca sem medo… de dizer eu AMO sem nenhum tipo de constrangimento… de ouvir o coração… é a idade de optar pelo sim ou pelo não sem medo… é exatamente aos 30 que passamos a entender todos os devaneios de nossa mãe… o quanto somos parecidos com os mais velhos… é nessa idade que passamos a nos colocar no lugar do outro… por isso você se viu em cada uma dessas guerreiras… isso chama-se MATURIDADE… seja bem vindo ao mundo real… TE AMO SEMPRE !!

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Publicado às 2 de abril de 2014 por em Filmes, Memórias e marcado .